Morra com Zero - Cuidado: Quebra de Paradigmas!

Acabei de ler um livro chamado Die with Zero: Getting All You Can from Your Money and Your Life Book, autor Bill Perkins. Ao término da leitura dava para ouvir os vidros das minhas convicções se estilhaçando dentro da minha cabeça.

O conceito passado pelo livro é, em essência, simples: aproveite a vida enquanto tem tempo e saúde. Não deixe tudo para a aposentadoria.

Já escutei isso diversas vezes, mas sempre me soou como conselhos de vó. O diferencial desta vez é que o livro foi escrito por alguém que fala a minha língua. E agora bateu fundo.

O autor tenta (e consegue!) atribuir uma visão analítica e quantitativa aos eventos subjetivos da vida.

Fiz abaixo um resumo para minha consulta a posteriori:

Regra 1: Maximize suas experiência de vida positivas

"Costumamos adiar nossas experiência até o ponto de ser tarde demais. Guardamos dinheiro e nunca conseguimos gastá-los naquilo a que nos propusemos inicialmente. Vivemos como se a vida fosse infinita quando na verdade é absurdamente curta!"

De fato, a vida é curta. Aos 30 anos, o seu Eu que estava na casa dos 20 morre. E com ele toda a disposição, energia e predisposição ao risco inerente daquela faixa etária. Existem experiência que só são amplamente aproveitadas quando se está na casa dos 20 (solteiro, sem filhos, com longo futuro para recuperar-se financeiramente). Por exemplo: colocar uma mochila de acampamento nas costas e pegar um trem sem destino certo na Europa, descansando em beliches em quartos albergues. Isso só tem o verdadeiro sabor antes dos 30. Obviamente, dá para fazer isso depois, mas será uma experiência completamente diferente e, na minha opinião, com muito menos desafiadora.

Algumas experiência só podem ser aproveitadas até um certo tempo. Não será sensato querer fazer uma travessia (caminhada) de 2 dias caminhando aos 90 anos de idade.

As experiências que curtimos também mudam ao longo do tempo. De que adiantaria eu, como pai, levar minha filha na Disney quando ela tiver 20 anos de idade? Já teria passado o melhor momento.

É preciso termos as experiências de vida na sua respectiva idade ideal. Não importa o quê ou quanto dinheiro você tenha.

Mas como maximizar nossa realização de vida enquanto minimizamos os gastos?

Apesar de sempre termos potencial de fazer mais dinheiro no futuro, nunca poderemos voltar no tempo e recapturar o tempo que passou. Portanto, não faz sentido perder oportunidades por medo de desperdiçar dinheiro. Desperdiçar a vida deveria ser nossa maior preocupação.

Precisamos descobrir o que nos faz feliz e então converter o dinheiro que temos em experiências que escolhemos.

Quando somos jovens recebemos da sociedade o ensinamento do quão é importante é começarmos a economizar. E economizar no início de sua vida profissional, no auge de sua saúde, é um erro (para não dizer, idiotice). Deveríamos transferir dinheiro dos anos de abundância para os anos de escassez. Guardar dinheiro na juventude é fazer justamente o contrário: tirar dinheiro do período de escassez para dar ao seu futuro e endinheirado Eu. É ou não é idiotice?

Todos temos energia vital. Energia vital são todas as horas que você está vivo para fazer algo. Quando trabalhamos, usamos esta energia vital finita. Portanto, todo dinheiro que você ganha é energia vital armazenada (usada) para acumulá-lo. Todos nós estamos dando nossa energia vital em troca de um pedaço de papel! Pense nisso quando for comprar algo: quantas horas de energia vital me custará este celular novo? Quantas horas precisei trabalhar para ter este "objeto"?

Isso nos leva a uma conta curiosa: alguém que ganha R$4.000,00 por mês pode estar ganhando mais por hora do que alguém que ganha R$7.000,00. Lembre-se da energia vital: se para ganhar R$7.000,00 você precisa perder tempo no trânsito, tempo comprando, lavando e passando roupas sociais, etc, então seria melhor ganhar R$4.000,00 e ter todo o tempo livre para viver experiências de vida.

"A vida é a soma das experiências"

As boas experiências não necessariamente custam dinheiro, mas não vou romantizar o fato de que excelentes experiências têm custos financeiros.

O autor traz um conceito muito interessante: bens materiais, como já sabemos, causam excitação no início mas este sentimento se deprecia rapidamente com o tempo. As experiências de vida, ao contrário, se valorizam com o tempo. Ganhamos com estas experiências dividendos da memória!

A recomendação é neste momento já começarmos a fazer uma lista das experiências que gostaríamos de ter. Não importa se custa muito ou pouco, se é em benefício próprio ou não. Ao longo de algumas semanas escreva. Mas tem que ser algo pessoal surgido de você. Não vale procurar listas na Internet: 10 coisas para fazer antes de morrer. Com calma você irá conseguir montar uma lista daquilo que sempre quis fazer ou repetir. Uma lista SUA.

A minha lista já está pregada na parede. Dentre os itens estão:
- Subir com minha esposa um pico na serra do Caraça (tenho uma história lá)
- Um longo passeio de barco no rio Amazonas (ex.: Manaus/Belém)
- Morar 1 ano no litoral
- Fazer um safari na África
- Nadar a Travessia dos Fortes no Rio
- Fazer com minha filha a viagem de trem BH-Vitória
- Fazer a Trans-Siberiana
- Passar 1 ano no mínimo viajando em um Trailler
- Fazer um cruzeiro marítimo
- Reencontrar amigo X e Y
- Saltar de Paraquedas

Todas estas coisas surgiram de minhas lembranças. São experiências que já comentei com alguém que gostaria de fazer, experiências que cheguei a buscar na internet sobre como fazê-las e sonhei com algumas. Nenhuma delas me foi simplesmente sugerida.

Cuidado para não colocar na lista experiências que você viveu no passado na esperança de revivê-las. Certamente, elas não terão o mesmo sabor agora. Algumas experiências são mais saborosas estando apenas na memória.

No livro, o autor conta a história de um amigo que largou o primeiro emprego para fazer um mochilão na Europa. Este amigo chegou a pegar dinheiro emprestado com um agiota! Parecia loucura o que ele estava fazendo, afinal de contas, a carreira dele estava apenas começando e ele ia largar o emprego. O autor do livro achou melhor não acompanhar o amigo. Resultado: o amigo voltou cheio de histórias e aventuras, amigos e namoradas, descobertas e aprendizados. Certamente, as memórias que o amigo ganhou irão acompanhá-lo pela vida toda e ganharão mais valor com o avanço da idade (dividendos de memória).

Quando o autor fez 30 anos ele decidiu empreender esta viagem pela Europa. Obviamente, o gosto foi diferente. Com 30 anos ele não se dispunha mais a enfrentar os desconfortos e riscos que enfrentaria aos 20 anos de idade, e muito menos ficar andando com uma mochila de 30kg nas costas. O tempo dele tinha passado e aquela experiência nunca mais poderia adquirida.

O amigo do autor disse: "o que eu gastei na viagem foi uma barganha. As memórias adquiridas não têm preço e ninguém poderá tirá-las de mim".

Pessoalmente, sinto-me feliz por ter me arriscado em tais viagens na minha juventude. Com 17 anos fiz um intercâmbio para os EUA de 2 meses para ajudar em um Summer Camp de crianças na YMCA. Com 20 anos, outro intercâmbio para Alemanha para cuidar de crianças. Carrego comigo essas doces lembranças até hoje. Não raro, sonho com elas como se lá estivesse. Incentivo meus sobrinhos a fazerem o mesmo (até hoje nenhum seguiu meu conselho).

As experiências de vida moldam quem nós somos. Por isso, precisamos dar uma grande atenção ao tipo de experiências que queremos ter daqui em diante.

Uma boa metáfora é que arrumamos um poço de água e uma bomba, começamos a bombear água para encher o nosso copo. O copo fica cheio e damos um golinho. Aí continuamos a encher o copo e morremos com sede. Essa é a saga da acumulação de dinheiro que a sociedade nos propõe e que o autor quer desconstruir no livro.

"Nós nos aposentamos em nossas memórias. Quando estamos fracos demais para fazer qualquer coisa, ainda poderemos olhar para o passado com orgulho, alegria e um pouco de nostalgia"

Todos nós crescemos ouvindo a famosa história da formiga e da cigarra. A formiga trabalha e tem comida no inverno. A cigarra canta e passa frio no inverno. Na verdade, a história está dizendo para acumularmos recursos para o inverno de nossas vidas (velhice). E onde fica a diversão de poder cantar no verão? A formiga errou tanto quanto a cigarra ou abdicar de todo o verão. Um verão (juventude) que na vida nunca mais volta. Existe um meio termo entre a formiga e a cigarra.

Aqui vem o primeiro gráfico para nos ajudar nessa jornada em busca das melhores experiências. A sugestão do livro é darmos pontos para as experiências que tivemos durante o ano. Uma viagem, uma festa, enfim, algo que fizemos fora da rotina e que nos causou boas recordações. (daqui para frente vocês verão como que os conceitos de investimentos se fundem com temas subjetivos como experiência de vida e memórias e porque este livro me cativou tanto):


Agora vem a ilustração do que quer dizer dividendos de memória. Ou seja, experiências que após vividas nos trazem boas sensações ao serem relembrada na memória. A cada vez que pensamos nestas experiências vivemos uma nova experiência mental e emocional.

Eu já perdi as contas de quantas vezes já relembrei com minha esposa (e com aqueles próximos à mim ) das aventuras e desventuras das minhas viagens para Europa, Tailândia, Índia, China e até uma breve passagem em Qatar. Cada vez que revivo estas histórias sinto um grande prazer. Já perdi voos, já perdi passaporte, já tive que descer de um barco à noite no mar para ir para procurar no escuro uma pousada em uma ilha, enfim, muitas aventuras!

São os dividendos pagos pela experiência original. Vejam como podemos representar isso em forma de gráfico:



Notem que em algum momento os dividendos obtidos por uma experiência bem antiga (ou seja, revivendo-a na memória) terá nos trazido mais prazer acumulado do que a própria experiência em si.

Portanto, ao pagar por uma experiência você estará pagando também para receber todos estes dividendos de memória ao longo da sua vida!

Muitas vezes avaliamos um gasto ou investimento apenas na questão financeira. Comprar uma casa na praia pode parecer ser um péssimo negócio. Mas, e se essa casa lhe proporcionar as melhores experiências de sua vida? Isto também precisa ter seu devido valor na avaliação. 

Quando perguntamos às pessoas por que estão guardando dinheiro, geralmente dizem que é para a aposentadoria. Mas, se dinheiro existe para nos proporcionar boas experiências e, como já sabemos experiências possuem tempo de validade, para que guardar tudo para a aposentadoria se podemos usar boa parte destes recursos agora.

Ao usarmos o conceito de dividendos de memória chegamos à uma conclusão básica: quanto mais cedo investirmos, mais dividendos receberemos até o final da nossa jornada. Portanto, invista desde cedo em suas experiências!

Mas como vou investir cedo em boas experiências se não tenho dinheiro ainda? Lembre-se que com a juventude do seu lado, você pode se arriscar em grandes experiências a custos bem baixos. Eu, por exemplo, fui para a Alemanha trabalhar com Au-Pair (baby-sitter). Paguei somente minha viagem e ainda ganhava da família um Taschengeld (mesada). Foram 6 meses que levo comigo até hoje como lembranças. Viajei pela Europa dormindo em quartos lotados de albergues fedidos e comendo porcarias na rua e me achava um privilegiado por estar ali naquele momento vivendo tudo aquilo.

Pense bem antes de realizar cada gasto. Bens materiais trazem momentos fugaz de satisfação. Seja diligente ao escolher em que experiência irá gastar seu dinheiro.

No livro o autor conta a história de uma amigo que dizia se aposentar ao atingir 15 milhões de dólares em patrimônio. Acontece que ele atingiu 15 milhões e mudou a meta para 25 milhões que eventualmente tornou-se 100 milhões. É quase impossível conseguir parar quando se está em uma curva ascendente de ganhos. Atualmente, o amigo atingiu 4 bilhões e admite que passou do ponto. Que ponto era esse? 100 milhões? 1 bilhão? Ninguém sabe. Mas, certamente, era antes dos 4 bilhões.

Continuamos trabalhando apenas como hábito. Mesmo atingindo o objetivo, o hábito persiste e nos obriga a continuar nele, mesmo quando se tornar desnecessário, apenas pelo prazer que o hábito provoca: dinheiro, prestígio...

Quando morremos com dinheiro na nossa conta, estamos desperdiçando horas dedicadas ao trabalho e não aproveitadas.

Se alguém morre com 100 mil reais na conta e esta pessoa é remunerada 100,00 a hora, então esta pessoa desperdiçou mil horas de vida (100k/100 = 1.000). Ou 25 semanas de 40/h semanas de trabalho. Mais de 2 anos jogados fora.

Ouvi uma vez um cara dizendo que torraria seu patrimônio supondo que fosse viver até os 120 anos. Não é nem de longe a melhor estratégia, mas ainda assim é melhor do que continuar acumulando indefinidamente.

E se alguém ama seu trabalho e quer morrer fazendo o que faz? Um ator, por exemplo, que quer morrer no palco. Um professor que quer morrer lecionando. Um dançarino que ama dançar? Não há mal nenhum nisso. Mas, ainda assim, esta pessoa deveria gastar suas reservas naquilo que ela ama: seu próprio trabalho. Poderia gastar viajando para congressos em assentos de primeira classe, indo ver seu ídolo/ícone se apresentando ao vivo, dar festas para reunir colegas de trabalho, contratar gurus da sua área para lhe treinar, pagando pessoas para executar tarefas rotineiras para ter mais tempo para executar seu trabalho, ....

A maior objeção para morrer com zero é o medo de chegar em algum ponto da velhice sem nenhum tostão! Guarde para o futuro, mas não cometa o erro de guardar demais como faz a maioria.

Os recursos financeiros continuam subindo até metade dos setenta anos. Existe um ponto na vida onde você poderá desfrutar o máximo de sua riqueza. O problema é que as pessoas continuam a guardar para além deste ponto.



Um quarto dos aposentados, na verdade, aumentam seus recursos após a aposentadoria.

Quando envelhecemos, apesar dos gastos com saúde aumentarem, todos os demais custos caem vertiginosamente: custos com lazer, vestuário, alimentação. Vejo isso claramente com meus pais. Apesar de gastarem muito com remédio, sobra dinheiro e não têm vontade de gastar com nada mais. É um erro achar que iremos gastar mais com nossas experiências de vida após a aposentadoria. A tendência é gastarmos menos.

Guardamos dinheiro para imprevistos na velhice, especialmente, custos com saúde. Mas será que iremos passar anos em uma enfermaria? É para isso que existem seguros: para situações calamitosas e altamente improváveis. Guardar demais para estes eventos é como se fizéssemos um seguro contra invasão alienígena. Eu prefiro usar meu dinheiro para outras coisas a ficar esperando estes eventos desastrosos.

Além disso, nenhum dinheiro que você guardar será suficiente para cobrir os custos de uma condição gravíssima de saúde. Por exemplo, um tratamento de câncer poderá custar meio milhão de reais! Diárias em UTI poderão minar suas reservas em questões de dias. No momento em que escrevo, uma diária de UTI está e média R$2.200,00. Soma-se a isso os procedimentos.

Portanto, não há lógica em em trabalhar duro anos a fio gastando nosso tempo no auge de nossa juventude e nossa saúde para ter alguns dias de vida medíocre preso em um respirador mecânico. Não precisamos sacrificar nossos anos áureos apenas para espremer uns dias de vida em uma UTI. Nós não devemos ser nossos agentes de seguro. Para isso existem empresas especializadas em calcular a probabilidade de tudo e nos cobrar uma proteção para o que quisermos.

Melhor gastarmos mantendo nossa saúde enquanto a temos, do que gastar tudo quando chegar o fim. É importante, portanto, os check-ups anuais e demais medidas preventivas de acordo com a sua idade. Também, procure saber se seu plano de saúde oferece homecare.

Mas como saber quanto tempo iremos viver? É impossível saber exatamente, mas podemos chegar bem perto por meio das estimativas. Para isso, existem as calculadoras de expectativa de vida.

https://www.longevityillustrator.org/
https://livingto100.com/
https://www.terra.com.br/noticias/infograficos/calcule-sua-expectativa-de-vida/

Cuidado com os assessores de investimento. Eles são especialistas em escolherem ações e tentarem fazer você ganhar dinheiro (no melhor dos casos). Eles não são especialistas em aconselhar sobre como extrair as melhores experiências do seu dinheiro acumulado. Tenha sempre em mente que o objetivo aqui é aumentar as experiências de vida e não aumentar sua riqueza. Dinheiro certamente lhe ajudará a conquistar memórias inesquecíveis mas, paradoxalmente, acumular dinheiro pode te atrapalhar nesse caminho.

Primeiro, calculamos o mínimo que precisamos para sobreviver e a expectativa de vida que temos. Todo dinheiro que exceder estes cálculos deveria ser gasto em experiências de vida.

Se formos morrer amanhã, todas as nossas prioridades mudam 180 graus! Se for morrer em 2 dias, haverá, talvez, algumas pequenas alterações na sua rotina.  Em ambos os casos, o que você fará com seu tempo será dramaticamente diferente de quando você estima 50 ou 60 anos pela frente. Não é que devemos viver o hoje como se fosse o último dia. Mas, precisamos de uma estimativa para não agirmos como se vivéssemos para sempre. Precisamos achar um balanço entre estes extremos.

As pessoas postergam suas experiências na vida para realizarem tudo no final. Isso não será possível além de ser totalmente irracional.

Existe aplicativos de celular que fazem a contagem regressiva de uma data. Seria interessante colocar a data aproximada do dia que estatisticamente iremos morrer para termos uma clara noção do tempo e do quê queremos fazer com ele.

E os filhos?

É comum acharem que alguém que almeja morrer com zero não tenha filhos ou seja um egoísta.  Não deveríamos pensar no bem estar de nossos filhos após nossa partida?

Ironicamente, quem faz estes comentários não está colocando os filhos em primeiro lugar. Na verdade, está deixa os filhos por útimo. Nestes casos eu sempre pergunto para estas mesmas pessoas: você fez previdência para seus filhos? Fez seguro de vida? Ou você está só repetindo o que todos falam?

A filosofia de morrer com zero não é gastar o dinheiro dos seus filhos, mas sim gastar todo o seu dinheiro.

Dê a seus filhos tudo o que pensa alocar para eles antes de morrer. Por que esperar sua morte para fazer isso? 

Colocar seus filhos em primeiro lugar significa dar a eles bem antes e certificar-se que o que você der irá chegar a eles no momento em que eles mais precisam. Com isso, você separará o dinheiro dos filhos do seu dinheiro e poderá, tranquilamente, gastar o seu dinheiro até o final.

Pois, pense bem, qual a lógica de dar os filhos algo em um tempo futuro aleatório? Um tempo futuro em que você nem sequer poderá garantir que eles estarão vivos? Este é o problema com as heranças: damos muita chance ao azar. Muito provavelmente, o dinheiro que você deixar como herança irá chegar aos seus filhos tarde demais para poder impactar significativamente a qualidade de vida deles. É o que chamamos dos 3As: dar Aleatoriamente em um momento Aleatório para pessoas Aleatórias.

Agora me digam: como pode a aleatoriedade ser sinônimo de cuidado e consideração?

Pesquisas feitas mostram que, em média, as pessoas recebem suas heranças aos 60 anos. É esperado que seja assim, já que a expectativa de vida beira os 80 e a idade de ter filhos beira a casa dos 20.

Idade provável de receber herança

História Real:
Virgínia passou por uma grande dificuldade financeira após o divórcio. Filhos para cuidar e contas para pagar. Com muito esforço superou este período. Aos 49 anos de idade, sua mãe morreu deixando para ela uma herança. Após todos os trâmites do inventário (custos de advogado e impostos), sobrou para Virgínia $130.000. Certamente, é um dinheiro bem vindo, mas teria sido muito mais úteis naqueles momentos de turbulência. Receber agora, aos 49 anos, é como um brisa em um dia quente. Só isso. "Se eu tivesse recebido este dinheiro com 30 anos, teria comprado uma casa melhor em uma vizinhança melhor para poder criar meus filhos" - lamenta Virgínia

Certamente, a mãe de Virgínia é uma daquelas que diriam assim à minha proposição de morrer com zero: e as crianças? Ela colocou a filha em primeiro ou em último lugar?

Qual a melhor idade para os filhos receberem a herança? Entre 26 e 35 anos será uma boa escolha, pois evitará a imaturidade da juventude e evitará dar o dinheiro quando ele não for mais tão necessário.

Em última instância, a maior herança que deixamos para nossos filhos são experiências que temos junto deles. Com isso, a conclusão a que chegamos poderia ser algo como: quando atingir o valor financeiro suficiente para atender às necessidades básicas dos filhos, continuar trabalhando por mais tempo será como tirar deles a maior herança que poderiam ter: passar o tempo juntos com você. Quanto mais rico for, mais essa afirmação se mostra verdadeira.

Doar seus bens após a morte não é um ato de generosidade, afinal de contas, seus bens serão passados para outros com ou sem sua vontade. Por força de lei. A verdadeira generosidade está em tomar a decisão em vida e doar em vida. Portanto, se quiser doar para alguma instituição, melhor que doe o mais cedo possível para que seu dinheiro tenha impacto imediato sobre aqueles que necessitam.

Gaste seu dinheiro em vida: com você, com seus amados ou doando.

Existem dois comportamentos automáticos: economizar a todo custo e gastar apenas por gastar.

Nossa saúde começa a declinar após os 30 anos. Às vezes um declínio repentino, mas, normalmente, de forma bem gradual e imperceptível. Em um dia comum, em um jogo de futebol, você dá aquela arrancada e sente a panturrilha. É algo que aos 20 anos jamais ocorreria. Gradualmente, estas coisas começam a lhe mostrar que seus novos limites estão sendo demarcados pela natureza.

Pode ocorrer de você entrar em alguma aventura achando-se mais jovem do que realmente é. E lá irá se deparar com a dura realidade. Um trilha na natureza que você não conseguirá terminar ou, pior, terá que ser socorrido. Uma travessia no lago onde terá uma câimbra. Etc.

Não deixe para pensar nisso apenas quando for tarde demais.

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